A Constituição Observa
I
Acordei com o país na garganta
e um ministro na televisão
a toga tremia no verbo
mas não tremia na mão
II
Fux jogava futevôlei em silêncio
enquanto a Constituição, sentada,
olhava o campo da vergonha
com a alma desamparada
III
O voto não era voto
era fuga em latim
um biombo de palavras
pra esconder o que há de ruim
IV
Não julgou o golpe, julgou o foro
não viu o crime, viu o atalho
não enfrentou o abismo
preferiu mudar o baralho
V
Craque de Ipanema, juiz de areia
malandro de toga, sorriso de meia
decidiu não decidir
e proibiu que se decidisse
VI
A História, que não dorme
anota em silêncio o escárnio
não há brocado que salve
o que se escreve no armário
VII
Não é defesa de homem
é defesa de causa estrangeira
fala Fux, mas ecoa Trump
fala Fux, mas soa bandeira
VIII
A Constituição, traída
não grita, mas observa
o país, em sua nudez
vê a toga que não conserva
IX
O voto se arrasta em floreios
como serpente em vitrine
mas o veneno não é técnico
é político, é sublime
X
Não há glória no gesto
há deserção com verniz
o ministro que se protege
não protege seu país
XI
Será vencido, será só
mas servirá aos futuros embates
onde a farsa se repete
com novos nomes, novos trastes
XII
E quando a esperteza engolir o esperto
como sempre faz no final
a peruca cairá no chão
junto ao Manual do Cara de Pau
Ronalth
Setembro2025