03 09 25
Denúncia
No fundo escuro do mar
um colosso de aço e silêncio
rasga as águas sem aviso.
Propulsão nuclear, serpente sem som,
anunciada em Caracas, acusada
na mesa das Nações Unidas.
Vozes urgem por um gesto:
que o Brasil, irmão inquieto,
ergue a bandeira da palavra
contra a Tlatelolco rasgado—
aquele pacto de 1967,
juramento à desarma nuclear.
Mas nesse canto do mundo
há receio no Planalto:
denunciar o gigante do Norte
é afiar a lâmina da disputa,
é soprar chama no vento
de tarifas e retaliações.
E o submarino desliza,
fantasma de Paulo Afonso a Itaguaí,
silhueta de potência
que desafia juramentos.
Quem defende o tratado hoje
acorda o pesadelo da guerra.
Ó Brasil, poeta silencioso,
ergue a voz antes que o mar
engula inteiro o seu testemunho.
O pacto jaz, ferido, clamando
por um coração desprendido
que se diga irmão, e não fantoche.
Que a reticência se rompa
como o casco do monstro atômico,
e então possamos cantar juntos
a promessa de uma região livre
dos infernos forjados no abismo.
Ronalth
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