02 07 2025
RAQUEL DAMALI
UMA DESPEDIDA
Hoje, um pouco antes das 18h, estava caminhando na rua e olhei pro céu. Estava um pouco mais fechado, com nuvens carregadas para despencar água da chuva, em alguma localidade próxima, além de mais escuro, anoitecendo. Apesar dessa configuração, havia no poente do horizonte uma nuvem branquinha, sem está carregada para chover e, logo acima dessa nuvem, uma réstia de céu iluminado, pelos raios de sol que se despediam desse dia.
Olhei para aquele fresta de abóboda iluminada no céu e pensei, em um átimo de segundos, que aquela representação, metaforicamente, seria a entrada da eternidade.
Espantei o pensamento. Segui meu caminho.
Ao chegar em casa, sei da notícia do falecimento do meu querido tio materno, Gonçalo Tadeu. O tio Dêta (Piôi p/alguns), faleceu... tenho certeza que, naquele momento da nuvem iluminada no céu, foi sua despedida dessa vida.
É tio Dêta, como dizem, ficam as boas lembranças em nossos corações.
Sempre lembrarei de sua forma de tratamento: "é meu fi..."; sua voz grave; seu olhar diagonal, às vezes com a cabeça baixa; seu boné; seu caminhar carregando a bolsa da SUCAM (qdo vc trabalhava e eu, morando por aí, o encontrava, rapidamente, passando pelas ruas do Ipu).
Minha mãe, muito ligada a você, inclusive elegendo sua residência como um dos passeios preferidos dela, às vezes relatava seu jeito acolhedor e agregador com os mais humildes e seu desprendimento. Também falava o quanto sua função, como funcionário de combate às endemias, lhe levava a muitos rincões e o quanto você se envolvia e fazia de tudo para amenizar algumas penúrias quando as encontrava nos lares dos mais necessitados.
Sei também do quanto minha mãe ficou feliz no dia do seu nascimento. A alegria pela expectativa e receio da espera mexeu muito com ela. Suas traquinagens, peraltices e inquietações talvez hoje fossem identificadas como comportamento de uma criança hiperativa. Se foi, não sei, da minha parte o que posso afirmar é o que pude perceber em minhas interações com você.
Um tio querido, gentil com @s sobrinh@s, piadista, de uma memória afetiva gigante... como foi legal nossas interações por ocasião da feitura do livro *Memórias de uma Família - os Melo Lima*... nele você registrou as recordações das canções da vovó Toinha, as brincadeiras de suas irmãs com as recomendações à Elvira; seu acidente no tacho quente de mel e a famosa sova do "piu"...
Em outro plano, talvez, você poderá brincar com a inexistência do tempo, reviver esses momentos, resignificar outros e reencontrar seus entes queridos e nossos familiares que, também, já estejam por lá.
Aconchegue Aurinha (sua "Santarréa" como vc chamava), abrace a vó e o vô, conte piadas com tia Corrinha e, se for possível, nos guiem por lá ou simplesmente, desfrutem da eternidade refazendo-se nesse universo.
Aos meus primos Petrônio, Delano, Paloma, à tia Fátima e aos net@s Ianara Lima, Isadora Lima e João Gabriel, meu abraço fraterno de solidariedade e meus sentimentos de sobrinha enlutada.
Grata tio, por ter nos acompanhado até aqui e conpartilhado um pouco da sua existência conosco.
Descanse em paz.