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quarta-feira, abril 02, 2025

CARCARÁ - Grace Ribeiro

 25 04-02


Carcará


Grace Ribeiro
Ele estava ali espreitando do alto do edifício a sua próxima iguaria, que inadvertidamente é colocada na varanda dos apartamentos de pessoas que nem imaginam que terão a carne de seu almoço surrupiada sorrateiramente pelo gavião urbano.

Aconteceu comigo. Tirei meio quilo de bisteca bovina congelada do freezer e deixei na bancada da varanda para descongelar, enquanto fui tomar um banho rápido e voltar para preparar o meu rango.

Mas ao retornar encontrei três pedaços de ossos, a carne tinha sumido! Pasma fiquei e ao olhar para o pátio do prédio vi uma porção de carne estatelada no chão. Logo imaginei que tinha sido o carcará que costuma dar seus vôos rasantes no meu "céu de brigadeiro".

Fiquei arrasada e amaldiçoei o pássaro faminto. Em seguida recebi uma ligação no interfone. Era o porteiro comentando que o síndico estava reclamando que os moradores estavam jogando restos de carne pela varanda, que ia baixar uma portaria e cobrar multa dos responsáveis.

Eu não acreditei, somos roubadas e ainda vamos ter que pagar multa? Tive que explicar o ocorrido para a administração do condomínio, que compreendeu a situação, mas me exigiram colocar uma tela de proteção na varanda. Tive que concordar e arcar com este prejuízo imprevisto, pois isso certamente me evitará outros problemas com pombos, periquitos e papagaios que costumam invadir o espaço aéreo em frente ao edifício.

A selva é de pedra, mas os pássaros, silvestres ou não, estão sempre sobrevoando as praças e avenidas das cidades nos encantando ou aborrecendo com suas peraltices.

domingo, fevereiro 23, 2025

MANDEI "PETIT PRO AR" - crônica de AIRTON SOARES

 25 02-23 - crônica

                                      

                                                                           Guandu

 MANDEI “PETIT PRO AR” Como é gostoso o meu francês

                      𝑨ᶦʳᵗᵒⁿ 𝑺ᵒᵃʳᵉˢ  23 ² ²

 

Relendo, Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, dei de cara com uma expressão francesa “Petit-pois.” Corri ao dicionário: ervilha.


A cena: na hora do jantar, Policarpo à mesa com o amigo Ricardo, enquanto Adelaide, irmã do Major, servindo a comida, se justifica ao visitante: “quis fazer um frango com petit-pois, mas Policarpo não deixou. Disse-me que esse tal petit-pois é estrangeiro e que eu o substituísse por guandu.” Como se sabe, o Major Quaresma, era um extremado nacionalista, postura que o levou a um triste fim. Daí, a razão da ojeriza a tudo que é de fora.

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Guandu (tipo de feijão) é uma leguminosa, muito cultivada em Minas, Bahia, entre outros Estados. (outra corrida ao dicionário).

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É, isso! Aprender uma Língua requer muita dedicação.

Tenho um amigo, que por saber de cor e salteado dizer de modo teatral,

Renoir, Alan Proust e Abat-jour, acha que sabe francês, vote!

                                                ᴥᴥ

terça-feira, março 10, 2015

AUTOFÁGICO FOGO!



Por Airton Soares
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CHAMAMOS DE FOGO
o resultado de um processo muito exotérmico de oxidação. Geralmente, um composto... 
- Corta! Corta! Não é por aí, senhor "AS"! A crônica tem de ser leve, enxuta e que narre em poucas linhas o porquê da dificuldade na resolução eficaz das grandes mazelas sociais do nosso país!
- Mas, Senhor Juiz, a querência que faz Vossa Excelência requer um mínimo de fundamentação e não poderia discorrer em poucas...
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(O Juiz impaciente...)
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- É... É... tem razão! Vá, vá... Mande brasa!
VIVEMOS SOB O
“amparo” de uma grande fogueira. Grande! `Gradonazona´, melhor dizendo. Por hipótese nenhuma pode faltar lenha, mas caso falte, incontinenti, o “foguista-mor” dá um jeito de arranjar graveto, cavaco, seja lá o que for. Importante é que seja “queimável”. Mas... se faltar? A fogueira continua. Como pode, se...? Pode, sim, sabe por quê? Porque essa fogueira é autofágica!
DIABEISSO?
Autofagia: é o sustento de um organismo à custa de sua própria substância. Diz respeito à autofagia que é a autodestruição de célula e de organelas citoplasmáticas pelas suas próprias enzimas hidrolisantes. Quer se amostrar, né? Por que num desembucha logo e finaliza essa crônica?
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A FOGUEIRA A QUE EU
me refiro, de que você já desconfiava, é o sistema capitalista. Ele é fogo! Autodestruidor, autofágico. Daí a dificuldade na resolução eficaz das nossas mazelas sociais. Tudo que dá dinheiro entra na fornalha. Tudo! Prostituição infantil, tráfico de drogas... de influências, violência violenta, tudo é lenha. Tudo gera grana. Não consigo esquecer uma manchete que li nos jornais: “Depois de achar os fuzis, o exército saiu das favelas! Agora o tráfico volta ao normal no Rio.” Voltar ao normal, pode? Pior é que pode!
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DAÍ NÃO ACREDITAR
nos “acrisolados” projetos que todos os dias são espirrados gabinete afora. Acredito até que, dentre os responsáveis pelas nossas políticas públicas, exista uma minoria cônscia do seu dever de casa, mas que no íntimo, reconhece que seu poder de fogo é... de artifício! Pronto, Juiz. Cheguei ao final. Mandei a brasa que Vossa Excelência queria? Tenho dito!

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Ceia Literária e UBT presentes nos 88 anos de Fernando Câncio

e o tempo enLEVOU!





UM TIPO INESQUECÍVEL
Homenagem ao escritor Fernando Câncio
(por Carlos Roberto Vazconcelos)

E

m nossas vidinhas tão efêmeras, conhecemos muitas pessoas. De todas as marcas, feitios e naturezas nossas vidinhas tão efêmeras, conhecemos muitas pessoas. De todas as marcas, feitios e naturezas nossas vidinhas tão efêmeras, conhecemos muitas pessoas. De todas as marcas, feitios e naturezas.

Lembro que as velhas e boas revistas Seleções traziam uma interessante coluna intitulada Meu Tipo Inesquecível. Eram testemunhos de vida, retratos de homens e mulheres que não passaram despercebidos por este mundo.

Luciano Jucá, da Ceia Literária e Fernando Câncio. 14/03/2010.

Eu também conheci um tipo inesquecível. Estava iniciando o curso de Letras, quando tomei conhecimento da existência de um grupo de escritores chamado Ceia Literária. Era tudo o que eu queria. Muito jovem, e vindo do interior, andava à procura do meu nicho, de um reduto de pessoas com quem pudesse compartilhar minhas afinidades literárias. O convite chegou em sala de aula, através do professor Valdemir Mourão, fundador do grupo, à época titular da cadeira de Lingüística na UECE.


Fernando Câncio (fundo da imagem) Gutemberg Liberato, presidente da UBT e Carlos Roberto Vazconcelos, da Ceia Literária. Fortaleza -14/03/2010.

Passei a frequentar as reuniões da Ceia Literária com assiduidade. Identifiquei-me de pronto com todos os membros do grupo, pessoas inteligentes, sensíveis e solidárias.


Um dos membros da Ceia Literária, em especial, muito me chamou a atenção, pela originalidade, espirituosidade e carisma: Fernando Câncio de Araújo, o velho mais jovial que conheci. Ainda hoje, do auge dos seus oitenta e sete anos, se o assunto é idade, responde sem hesitação:
O que importam meus cabelos brancos, 
se minha alma ainda faz pipi na cama?

Imediatamente lembro outro poeta querido, Mário Quintana:
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai: 
Eu quero meus brinquedos novamente! 
Sou um pobre menino... acreditai... 
Que envelheceu um dia, de repente!

Marina Fernandes, da Ceia Literária (organizadora do evento. Fortaleza, 14/03/2010

Antonio Carlos Villaça, no seu livro Os Saltimbancos da Porciúncula, assim descreve Quintana: Um velhote buliçoso, que não tinha pose, nenhuma afetação. Era todo leveza, espontaneidade, fluidez. Fernando Câncio também é assim.

Certa vez, saíamos de uma reunião da Ceia Literária, num edifício da rua Liberato Barroso. O elevador, lotado, o Fernando, gordo. Todos esquivos para não pisar um pé alheio e empenhados em manter a devida distância do patrimônio do outro. O poeta observou que alguém entrara por último, quase espremido pela porta. Lá embaixo, quando a bendita porta se abriu e acabou-se o sufoco, Fernando não se conteve e desferiu para riso geral:
O elevador é um dos poucos lugares onde se faz valer aquela lei de Deus: “Os últimos serão os primeiros.”

CEIA LITERÁRIA. 14/03/2010. Luciano Jucá e o prof. Felipe Filho não aparecem nesta foto. Chegaram depois...

Fernando cursou as “primeiras e únicas letras” (como faz questão de esclarecer), no Grupo Escolar da Fênix Caixeral. Na verdade, cursou até o 4° ano primário, mas considera-se autodidata. Aprendeu a ler e nunca mais quis se separar dos livros. Leu os grandes clássicos cearenses, brasileiros e estrangeiros. Escreveu inúmeros livros, alguns com títulos intencionalmente esdrúxulos e quilométricos (que nada têm a ver com o conteúdo), apenas para roubar a atenção do leitor: Os Sapos do Castelo de Montserrat ou As Aventuras de um Lagostim Daltônico. Foi durante muito tempo o gerente do Cine Art. Sucedeu-se por dezoito anos no cargo de presidente da UBT (União Brasileira de Trovadores) e se dependesse dos sócios permaneceria por mais dezoito. Marcou história no comando dessa agremiação. De todos os gêneros, o que mais lhe dá satisfação é a Trova, sendo ele um dos melhores destas terras, na arte dos quatro versos. Querem ver?

Saudades, marcas doridas
de um momento que passou
bandeirinhas coloridas 
que o tempo nunca rasgou 
ou
Era um poeta de mão cheia, 
Hippie, cabelos revoltos...
Só poetava na cadeia,
Detestava versos soltos

Marina Fernandes e Fernando Câncio. 14/03/2010.

Fernando Câncio é também um exímio recitador. Uma vez no palco, contagia a platéia com o carisma e a desenvoltura de um mestre. Certo dia, comprovando a tese de que a criatura pode tornar-se independente do criador, criou Hortência, a amiguinha de infância transformada na mulher sonhada...Boquinha de forno...! Forno! Jacarandá! E Hortência virava lágrimas... de uma saudade perdida? de uma lembrança imaginada? É que o universo paralelo do artista é muito mais vasto do que a própria realidade.

Confessou-me um dia que nunca mais recitaria Hortência. A personagem havia crescido dentro dele, estava se exteriorizando, tomando conta de seu coração, fazendo-o chorar em público. Hortência passou a existir, definitivamente. Não mais nas páginas amareladas do livro, mas na lucidez de sua memória, como ser concreto, parte de seu passado, mulher de carne e osso.

Airton Soares da Ceia Literária e Fernando Câncio (Fortaleza, 14/03/2010)

Fernando Câncio é uma dessas raras pessoas a quem temos orgulho de conhecer. Sua grandeza está na simplicidade. Por isso, para falar sobre ele temos que usar palavras simples, despojadas de vaidade, mas carregadas de valor.

Algumas vezes fui visitá-lo, na rua Floriano Peixoto. Usufruí momentos de gratificante conversa. Dona Zilnah, sua falecida esposa, nos recebia sempre muito solícita. Uma tarde, saí rumo àquela rua. Não para visitar o Fernando, que o horário não era propício, mas apenas para levar-lhe umas guloseimas. A casa estava silenciosa e tristonha. Bati.Ednardo Gadelha, da Ceia Literária e Fernando Câncio. 14/03/2010.

A secretária veio atender pelo muro do jardim. Contou-me que dona Zilnah já não estava mais entre nós. Senti o golpe. Desagradável surpresa. Eu estava a caminho de uma livraria, localizado na Aldeota. Dentro do carro, larguei-me a refletir sobre o mistério doloroso da morte e os sentimentos a que ela nos remete. Garimpando os livros, saltou-me aos olhos o Meu Nome é Saudade, de Fernando Câncio, que é dedicado justamente à Dona Zilnah. Quanta coincidência! Não poderia deixar de adquiri-lo, em sua 1ª edição, de 1979, com autógrafo do autor. Este mesmo que está repousando aqui ao meu lado.

Carlos Vazconcelos, da Ceia Literária e Fernando Câncio. 14/03/2010.

Para quem não sabe, Fernando Câncio também é pintor. Na parede do meu apartamento, tenho um óleo sobre tela, que ele fez especialmente para a capa da coletânea Ceia Maior, em comemoração aos dezoito anos do grupo Ceia Literária.

Fernando Câncio, você mora na minha estante, na minha parede e principalmente na minha memória. E não paga aluguel.

JOÃO RODRIGUES NA BIENAL - Expressão Gráfica Editora

 25 04-08 JOÃO RODRIGUES Boa noite. Farei o lançamento do meu novo livro no Stand da Expressão Gráfica. Terei o prazer de contar com a prese...