09 08 25
Mourão
A sentinela de um poeta
silêncio.
um sino trêmulo treme, toca;
a tristeza saltita
palpita e grita no peito de alguém
desconhecido e só no velório de mim;
um breve sopro de brisa balança
as folhas que sobram dos telhados;
uma gota d'água despenca de uma folha que voou;
a torre da igreja se esconde dos prédios;
não se sabia de onde vinham as batidas
agora dispersas...
o sino palpita, gemendo de dor e pena de mim.
enfim, o velho caixão, ainda aberto,
fecha-se sobre mim...
antes, uma lágrima estranha me molha os lábios;
atrevidamente espera um aperto ao menos de dor...
calam-se os sinos, cerram-se os lábios...
a cova fechou...
há pena de mim; em mim há glória.
minha glória será assim? (Valdemir Mourão. Ceia Literária 5. O lago das vozes).