25 03-22
Lourdes Mozart
O Dr. JOSÉ MARIA tem o dom de escrever com tanta suavidade que consegue descrever a morte de uma amiga com palavras suaves que cheiram a poesia. Maria José, que você esteja junto ao Pai desfrutando das delícias celestiais. :::
Dr. José Maria Bonfim
Partiu Maria José Serra Azul. Levando seu coração cheio de pureza e de bondade. Serra Azul é uma pequena Serra com altitudes máximas de 800 metros de altura, que se levanta nos alcantis da cidade de Ibaretama.
Bem próximo a Quixadá. Provavelmente é a origem da família do mesmo nome. Na Faculdade de Medicina conheci a Helena Serra Azul, que foi casada com o Chico Passeata. Um casal querido de todos nós. O HGF de Fortaleza, ex-INAMPS, inaugurado em maio de 1969, nasceu como um dos melhores centros de excelência do Norte e Nordeste! Hoje é de propriedade da Secretaria de Saúde do Estado.
Quando voltamos da residência médica, no Instituto de Cardiologia do RS, após concurso público comecei a trabalhar no belo hospital. E lá permaneci por 45 anos. Trabalhava com Dr Luiz Carlos Fontenelle, um estupendo profissional e dois excelentes cardiologistas: José Milad Karbage e Ronaldo Montalverne. Depois os dois últimos foram brilhar no Hospital de Messejana. Como era o caçula dos três, fazia além do ambulatório, avaliação cardiológica nos leitos de paciente de risco. Dr Chagas Oliveira e Dr Luciano Pinheiro, Dr Luiz Wagner Gonzaga, excelentes obstetras, organizaram de um serviço de gravidez de alto risco.
O objetivo era diminuir a mortalidade materna no parto. Atendi está jovem com HÁS ( Hipertensão Arterial) maligna. Os medicamentos da época não funcionavam. O RS encostado na Argentina, grande centro de cardiologia, já usava a Clonidina. E tratei na Residência Médica alguns pacientes com esta bendita droga. Eu Tinha trazido alguns comprimidos de Clonidina, do RS. Não era usado aqui. E pela primeira vez usamos no Ceará. Este medicamento era usado para HÁS Maligna.
A paciente pariu e sobreviveu. Depois ficou se tratando no ambulatório. Depois foi ser acompanhada no meu consultório. Desde 1979 até hoje, quando ela se despede de sua vida. Mas, agradecida a Deus por driblar uma doença tão grave. Maria José tornou-se minha amiga e um currículo valioso para minha vida de cardiologista. Simples, mas cheia de felicidades com a família. Há três anos, quando fui passar uma temporada em Zurich, minha saudosa irmã estava gravemente enferma, ela pediu para levar uns francos para sua filha Cristiane. Sempre chegava com os olhos cheios de carícias. Amava a vida.
De quando em vez vinha com um presente. Fabricava perfumes e sempre me os trazia. Na última vez que veio ao consultório o seu coração mostrava sinais de cansaço. Mas ela queria viver. Amava a vida e sua família. Morria em pleno domingo da Quaresma, quando Jesus proclama que a palavra divina vale mais que o pão e o poder. Hora de sentir saudade.
Mas hora desta filha dileta de Deus ter sobrevivido a uma doença grave por 46 anos. Deus a abrace, com o mesmo sorriso generoso que vivia. Pouco fiz. Foi Deus que a fez tão boa e tão suave, que a noite da vida demorou tanto a chegar. Deus é bom
