Por Lício Estrela (foto - caracterizada)
  Meu tio,  Airton,  sempre me deu aquela força para eu chegar lá na frente do público e falar o que eu tinha para dizer de forma engraçada, mas também na forma que se transmitisse  bem a mensagem.  
 Lembro que  ele me levava em aulas que ele dava - juntamente com o prof. Augusto Cruz e, muito pequenino,  eu declamava poesias escritas por ele ou dedicadas a ele.
  Agora, fica aí a minha homenagem ao meu tio, que é poeta e “que todos nós sabemos bem”...
 
"Dança, Lício, dança Lício".. um vídeo caseiro - e Lício, na espontaneidade de seus 4 anos - não só dançava, mas cantava e recitava poesias e longas como esta que se segue. Nessa época me acompanhava nos cursos de oratória que ministrava  - por aí mundão afora - em parceria com o prof. Augusto Cruz. Redundante dizer: essa criança era a atração principal do curso.
Hoje, me sinto feliz e recompensado ao ver no orkut (foto-teatro),  singela manifestação de carinho e reconhecimento e por saber que vou deixar um seguidor.. .e na família. 
Aproveito o ensejo, Lício, e transcrevo o texto que você declamava muito bem aos 4 anos.
Que tal treinar e declamá-lo aí em Portugal....?
Grande abraço, do seu tio
Airton Soares
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O Airton é que é o poeta
 todos nós sabemos bem,
 mas - como sou eu que vou fazer o discurso -
 vou dá uma de poeta também.
 
 Ao acordar-me hoje cedo
 de súbito me veio um medo
 quase não quis levantar
 o problema é  que eu sabia
 que naquele bendito dia
 eu é que ia falar...
 
 Mas falar o que, meu Deus?
 Valhei-me Nossa Senhora!
 clamei por todos os santos,
 mas eu tinha que falar era agora.
 
 Me aprontei e fui pra parada ( ponto de ônibus)
 nem tomei café direito..
 no caminho pensei a respeito...
 quer saber de uma coisa: VOU NADA!
 
 Mas fugir não tinha jeito
 de novo pensando a respeito:
 rapaz! Tu vai, mas ensaia
 o máximo que pode acontecer
 é tu levar uma vaia.
 
 Aí, eu tomei o ônibus, o motorista disse:
 Bom diiiiia!
 Pra mim ele fazia era mangar
 parece que até sabia que eu me lascar...
 
 Corri pra empresa
 me sentei na mesa...
 ... já estava sem fala
 
 Ai eu tinha um problema
falar a todos sem tremedeira
podia até ser bestêra... pensei?!
 ...vou fazer um poema...
 
Meu amigo, vou te contar
olha só esse dilema...
 O caba não tinha nem o que pensar
 ...queria fazer um poema.
 
 O que eu queria mesmo era impressionar!
 SÓ ISSO!
 Mas o tema não consegui
 já serve o que escrevi
 só uma estrofe vou declamar...
 
 “Vozes veladas, veludosas vozes,
 volúpias dos violões, vozes veladas,
 vagam nos velhos vórtices velozes
 dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Souza)
 
 Calma, ainda num acabei não
 mais um pouco de atenção
 vou terminar o discurso
 falando um pouco do curso.
 
 Meu Deus que diabo é isso
 no começo eu pensava sentado
 esse Airton parece que é doido
 e esse Augusto Ô bicho abestado!
 
 Fui mudando de ideia
 aquele jeito de falar
 o modo de gesticular
 encantaria a plateia
  
Esses adoráveis malucos
 nos convenceram enfim
 de que falar em público
 não é tão difícil assim.
 
 Agora, sim é o final
 e agradeço em nome do todo
 ao Augusto que é um cara legal
 e ao Airton que não é doido
 com uma frase final:
 
 De poeta e de louco
 todos nós temos um pouco.
  Fortaleza, 1985
 Texto: Vladimir da Vicunha
  Leitura teatralizada por Lício Estrela aos 4 anos
 Direção: Airton Soares (seu tio)
  Ano: 1988..89?!
 Fortaleza – Ceará – Brasil
 Brevemente no youtube...