Trova

°°°°°° Aquilo que a gente ignora / Gera medo e nos agita, / Mas "quem sabe faz a hora" / Não espera nem hesita. AS® °°°°°°

Seguidores

quinta-feira, janeiro 08, 2015

NOVO ANO

Agustina Bessa-Luís

Portugal 
n. 1922 
Escritora 

Novo Ano

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em colectividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma. 

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afectivo é mais forte do que a acção; paz para os homens de boa e de má vontade. 

(31 de Dezembro de 1979) 

Agustina Bessa-Luís, in 'Caderno de Significados' 

Nenhum comentário: